O testemunho de uma enfermeira que está na linha de combate, contraiu a covid e conta como venceu doença

PORTO VELHO – “Sou enfermeira há mais de 20 anos e nesse período nunca estive afastada do trabalho por doença, e nunca fiquei doente, mesmo trabalhando sempre em hospitais ou ambulatório, inclusive com vivência em cinco municípios diferentes, com as condições mais diversas; num deles nem havia médico e éramos só eu e um colega, ambos enfermeiros”.

A história a seguir é de uma enfermeira que durante duas décadas de profissão nunca ocupou cargo administrativo. Foi professora universitária e é funcionária pública na área de saúde, aprovada em três concursos. Quando procurada pelo expressaorondonia.com.br, ela impôs apenas uma condição, não ter seu nome citado. “Minha história é uma das muitas de profissionais de saúde como eu, e outros profissionais de toda uma rede de serviços prestados em benefício da população, todos os dias, e muitas vezes, nesse período de pandemia, que vivenciamos fatos que tem ocorrido com muitos e muitos profissionais de saúde, sempre expostos a se tornar um número nas estatísticas, em razão de seu trabalho a favor da vida dos outros”.

São pessoas que, como essa enfermeira, continuam todos os dias entrando e saindo dos plantões, apesar dos salários irrisórios em relação ao que fazem, arriscando suas vidas para salvar vidas dos outros. E não só agora – apesar de no momento atual muito mais expostos – e que sabem que, ao final, continuarão não tendo seu trabalho valorizado nem as condições ideais e necessárias para que possam salvar mais vidas.

Expressaorondonia – Sendo da área de saúde, você já esperava ser vítima dessa doença? 

Enfermeira – Não esperava, mas sabia da possibilidade. Todos nós sabemos que é possível, mas lutamos e nos policiamos para que não aconteça, mas aconteceu.

Expressaorondonia – Como é vivenciar uma exposição contínua, torcendo para não ser infectada?

Enfermeira – É bem tenso, uma vez que você não pode baixar a guarda usando as proteções (EPI’s), praticar as normas e, ao mesmo tempo, não podemos deixar de ser humanos e lidar com o sentimento das pessoas, precisamos acolher sem tocar, cumprimentar sem dar as mãos e, ainda, conversar muitas vezes usando armaduras (EPI’s) que acabam criando mais barreiras e dificultando tudo.

Expressaorondonia – Que cuidados você vinha tomando?

Enfermeira – Mantendo o uso de EPI’s, entrando em casa diretamente para o banho, limpeza excessiva a tudo que se traz para dentro de casa e do carro, uso excessivo de álcool, inclusive no carro. Praticando isolamento social (literalmente), inclusive de filhas e família, só via meus amigos e colegas de trabalho e mesmo assim com distanciamento sempre que possível, pois algumas atividades precisamos ficar próximos (mas com EPI’s).

Expressaorondonia – Quais foram os primeiros sinais?

Enfermeira – Comecei com coriza e espirros, que se mantiveram durante todos os 14 dias, reduzindo gradativamente.

Expressaorondonia – Você comunicou às filhas, à família e no trabalho?

Enfermeira – Sim, recebi o resultado do exame na quarta-feira à noite e na quinta pela manhã avisei a todos. Comuniquei também às pessoas que estive perto, mesmo em uso de EPI’s.

Expressaorondonia – Como é ser da área de saúde e de repente pensar: “Caramba! Eu estou com o covid!” Qual sua reação quando recebeu a informação?

Enfermeira – A minha torcida sempre foi para que o exame desse negativo, mas tinha certeza que estava bem, não consegui perceber qualquer sinal de que me chamasse atenção. O que são coriza e espirros? Tudo bem, que alguns pacientes simplesmente pioram subitamente, mas me mantive POSITIVA, segui fazendo a verificação da minha saturação, e aguardei. Não acredito em ‘acasos’; eu sabia que por algum motivo eu peguei COVID19, talvez para dar um ‘freio’ na vida.

Expressaorondonia – Chorou, rezou, orou ou entregou tudo para a ciência?

Enfermeira: Ao receber a notícia pensei em evoluir bem! Nada que não fosse da vontade de Deus aconteceria. Essa é sempre minha maior certeza! A oração foi e é meu maior refúgio, onde não há erros. Verdade que não sei pedir (risos!), mas já que estava ali com o resultado em mãos, melhor agradecer porque até aqui o Senhor me guiou.

 

Expressaorondonia – O que mudou na sua rotina a partir de quando você tomou conhecimento?

Enfermeira – No momento que soube, continuei em casa porque já estava afastada do trabalho logo após a coleta do exame. O resultado chegou em aproximadamente 36h (bem rápido!). Dentro dos cuidados de pandemia nada mudou, pois a mudança drástica foi feita lá atrás com tantos cuidados redobrados.

Expressaorondonia – Se quando você foi diagnosticada ainda não estavam usando, oficialmente, derivados da cloroquina, quais medicamentos você tomou?

Enfermeira – Sim, já estavam usando sim! Fiz uso do esquema que me prescreveram.

Expressaorondonia – Em que momento você sentiu que estava curada?

Enfermeira – Quando não percebi nada de sintomas, com uns 13 dias a partir do dia em que começaram os espirros e a coriza. Mas, fui fazer novamente o teste, agora sanguíneo e ver o resultado somente de IgG (*), foi muito bom!

Expressaorondonia –  E na volta ao trabalho, que providências você tomou para reduzir a possibilidade de nova onda?

Enfermeira – Mantive os cuidados já bem disponíveis a toda a população. Porém, tenho evitado alimentação fora de casa para não ter que tirar a máscara. E também só voltei a trabalhar no mesmo horário que os outros colegas com 22 dias após início dos sintomas e com o resultado de IgG positivo nas mãos.

Ela continuou:

Acredito que vale a pena citar que os cuidados precisam ser mantidos mesmo quando tudo estiver liberado. Em nenhum momento podemos esquecer que somos seres humanos e que precisamos estar interligados com os mecanismos que temos ao nosso alcance, pela internet, por exemplo, no momento. Cada um precisa fazer o seu melhor em cada etapa, principalmente na obediência para que esse momento passe logo!

Mas, me preocupo muito com as doenças não físicas que estão surgindo ou exacerbando em muitas pessoas. Penso que o período da quarentena é excelente para fazer autoanálise e perceber nossos limites e, sim, se preciso for, procurar ajuda profissional, religiosa ou mesmo amiga. O importante é ficar bem, e buscar ocupação, pois como já diz o ditado “cabeça vazia é oficina para o carboidrato!”

Agradeço imensamente a DEUS, meus familiares que nunca mediram forças para me ajudar, meus amigos de trabalho, da Igreja, dos Clubes Desbravador e Aventureiros, do facebook, bem, são tantos, percebi que o círculo de contato é maior que eu pensava (graças a Deus!). É muito bom receber as orações, ligações para perguntar se você está bem. Foi tanto carinho que é difícil de mensurar. Agora é retribuir fazendo tudo o que posso no trabalho, nas amizades e na família.

(*) IgG é um teste que informa se a doença ainda está ativa

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