Com prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, é possível melhorar a qualidade de vida e evitar mortes

Você sofre com algum tipo de alergia? Segundo a Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), cerca de 30% da população brasileira convive com alguma doença alérgica. Trata-se de uma hipersensibilidade do sistema imunológico que gera sintomas como espirros frequentes, erupções cutâneas, coceira, náuseas ou desmaio, podendo acarretar consequências sociais, laborais e até óbito.
Por isso mesmo, no Dia Mundial da Alergia, 8 de julho, especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) alertam para a importância do tratamento adequado para garantir qualidade de vida. A maioria das alergias são subdiagnosticadas, o que pode atrasar a busca por ajuda. As causas são várias: sintomas muito semelhantes aos de outras patologias, falta de acesso a especialistas e a testes mais precisos.
Técnica inovadora para diagnóstico
Nesse contexto, os hospitais universitários, campos de formação e pesquisa, desempenham um papel essencial tanto na educação médica quanto no avanço do conhecimento científico sobre esse tipo de doença. No Complexo do Hospitalar da Universidade do Rio de Janeiro (CHC-UFRJ), pesquisadores do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ/Ebserh) criaram uma técnica inovadora, com baixo aporte tecnológico e custo para diagnosticar pacientes com Urticária Colinérgica.
O médico alergologista e imunologista Guilherme Azizi é um dos criadores do teste, desenvolvido em parceria com a professora Solange Valle, e autor da dissertação de mestrado que originou o protocolo. Ele explica que se trata de uma doença incomum e intensamente limitante, já que o paciente não consegue permanecer em locais com temperatura elevada ou praticar atividade física.
“As lesões costumam coçar e doer, o que causa impactos na qualidade de vida, podendo levar a quadros de ansiedade, depressão e ideação suicida”, disse Azizi. A doença assemelha-se à Urticária Crônica, caracterizada pelo surgimento de lesões eritematoedematosas pelo corpo. A diferença é que a Urticária Colinérgica está associada ao aumento da temperatura corporal.
Até recentemente, os protocolos de diagnóstico envolviam bicicletas ergométricas ou banheiras com água aquecida a 42 graus Celsius, procedimentos que exigem infraestrutura e investimento incompatíveis com a realidade da maioria dos serviços públicos. Já o Teste Azizi-Valle, idealizado nas dependências do HUCFF-UFRJ/Ebserh, utiliza somente uma escada com 13 degraus e vem sendo usado no diagnóstico de pacientes com índices de sensibilidade e especificidade satisfatórios.
“Ele é realizado através do ato de subir e descer um lance de escadas, sendo o paciente instruído pelo médico a aumentar gradativamente a velocidade, visando elevar em 15 batimentos por minuto a cada cinco minutos em relação a sua frequência cardíaca basal para avaliar a evolução da temperatura”, explicou o médico. O teste pode ser aplicado em qualquer ambiente externo ou interno a um centro de referência, privado ou público, em locais no interior ou nos grandes centros, no Brasil ou fora.
Tipos de alergia, sintomas e diagnóstico
Existem diferentes tipos de alergia, sendo as mais comuns as respiratórias, cutâneas, alimentares e medicamentosas. Em ambos, o corpo responde como se estivesse sendo atacado, liberando substâncias químicas como a histamina, que causam sintomas que variam de grau leve a grave.
O Serviço de Alergia, Imunologia e Pneumologia do Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR/Ebserh) é reconhecido como um centro de excelência pela Organização Mundial de Alergia (WAO). No CHC, diferentes tipos de alergias são tratados, incluindo a medicamentosa.
“Ela pode ocorrer em minutos, segundos ou até poucas horas após ingestão da medicação. Os principais fármacos que causam alergia são antibióticos e anti-inflamatórios, tanto para criança quanto para o adulto”, disse o alergologista Heberto Chong.
Manchas vermelhas elevadas na pele ou edema de pálpebras e de lábios, associados a manifestações respiratórias como tosse, falta de ar e fio de peito ou a náusea, vômito ou diarreia, são alguns sintomas. Pode haver ainda queda da pressão arterial súbita com palidez e, em casos mais graves, choque anafilático, com queda brusca da pressão arterial, fechamento das vias aéreas, perda de consciência e risco de morte.
O diagnóstico precoce é fundamental. “O uso de adrenalina, em caso de anafilaxia, está indicado para salvar a vida do paciente”, indicou. Por isso a importância de busca um pronto-atendimento no caso de qualquer sintoma atípico.
“O diagnóstico é feito com uma boa anamnese, história de ingestão da medicação e surgimento dos sintomas. Existem testes complementares, como dosagens sorológicas para determinados medicamentos, como, por exemplo, antibióticos e anti-inflamatórios, mas o padrão ouro é o teste de provocação, feito em ambiente hospitalar”, pontua Chong.
Diferentemente da intolerância medicamentosa, que é uma reação física ou química do corpo à substância e não envolve o sistema imunológico, a alergia envolve anticorpos do tipo Imunoglobulina E. O tratamento é feito com corticoides e anti-histamínicos. “A partir do momento em que o indivíduo tem diagnóstico de alergia a determinado medicamento, ele deve se afastar desse fármaco e ter outras opções terapêuticas em caso de necessidade”, orienta o profissional.
Genética, prevenção e tratamentos que modificam a doença
De modo geral, as alergias são determinadas pelo DNA do paciente, mas a manifestação clínica depende do ambiente em que ele vive e de componentes com os quais entra em contato – como poeira, mofo, certos tipos de alimentos, produtos químicos, dentre outros. Desde os primeiros dias de vida, algumas medidas ajudam a reduzir o risco de desenvolver doenças — incluindo alergias — ao longo da vida, como o aleitamento materno, rico em anticorpos e nutrientes, fortalecendo o sistema imunológico.
“Bebês que mamam no seio da mãe por pelo menos os dois primeiros anos de vida — sendo os primeiros seis meses de aleitamento materno exclusivo têm comprovadamente menor taxa de alergias”, afirmou a alergista do Serviço de Alergia e Imunologia do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC/Ebserh), Maria Rita Ferreira Meyer.
Além disso, segundo a especialista, a exposição precoce ao ambiente é um fator de proteção. “O contato com a natureza, com animais e com alimentos diversos estimulam a produção de anticorpos e reduzem a probabilidade de alergias no futuro”, disse.
A Imunoterapia Alérgeno-específica, também chamada de vacina para alergia, é o único tratamento que comprovadamente modifica o que chamamos de história natural da doença. Ela age no sistema imunológico, alterando a produção de anticorpos que induzem alergia para os que induzem tolerância — o estado habitual do corpo.
“Os efeitos são a longo prazo, embora não possamos chamar de ‘cura’ da alergia, pois o DNA do paciente não é alterado. Logo, ele pode voltar a produzir os anticorpos de alergia ao longo do tempo”, explica Maria Rita.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Luna Normand/Ebserh