Tecnologia ampliou alcance do crime de tráfico de pessoas, mostra relatório do MJSP

Medo, vergonha, discriminação, desconhecimento da condição de vítima, falta de informações sobre os mecanismos de denúncia são razões da alta subnotificação do crime

O Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, que traz dados de 2021 a 2023, aponta que houve mudança central do modo de operação desse crime com o uso de ferramentas tecnológicas. A tecnologia ampliou significativamente as possibilidades de aliciamento, controle e, inclusive, de “invenção” de novas formas de exploração, de acordo com o documento.

O relatório foi divulgado nesta terça-feira (30/7) pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Justiça (Senajus). O estudo contou com o apoio técnico do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas (UNODC). Na ocasião, também foi lançado o IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. A solenidade ocorre durante o seminário nacional “Um Novo Capítulo da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas” .

Sobre o uso da tecnologia, o documento registra que “a atuação no ambiente virtual ampliou a margem de lucro dos traficantes, visto que viabiliza uma atuação de forma eficiente e ágil em escala global, com uma significativa capilaridade ao entrar em contato com um maior número de vítimas simultaneamente”. E completa “O uso de aplicativos também é utilizado para aliciar pessoas, principalmente as que se encontram em contextos de vulnerabilidade socioeconômica, com promessas laborais enganosas. Por meio do Facebook e Whatsapp, é possível alcançar trabalhadores/as em áreas remotas em um curto período de tempo”.

Em relação ao perfil das vítimas detectadas no País, a maioria é do sexo masculino, entre 18 e 29 anos e da raça negra. Seguem invisíveis aos registros oficiais as vítimas indígenas, transgênero e com deficiência.

Quanto às finalidades do tráfico de pessoas, a exploração laboral segue sendo a principal forma identificada. O número de não nacionais resgatados em condições análogas à escravidão segue em crescimento. A nacionalidade com mais resgatados, entre 2021 e 2023, foi a paraguaia, seguida da venezuelana e da boliviana. Pela primeira vez, foram registrados nos postos consulares mais brasileiros explorados para finalidades laborais. Tradicionalmente, a exploração sexual era a finalidade primordial do tráfico internacional de brasileiros e brasileiras.

No que se refere às finalidades invisibilizadas, pode-se dizer que a exploração para o cometimento de delitos nunca esteve tão pulsante. Essa finalidade foi relacionada ao transporte de drogas, produção de mercadorias ilícitas e a atuação em ações financeiras fraudulentas. Outra finalidade identificada como em ascensão é a adoção ilegal, que desafia por utilizar métodos sofisticados, com um número maior de envolvidos.

A perspectiva de gênero esteve presente no debate de duas finalidades socialmente ignoradas devido à desigualdade estrutural entre homens e mulheres: o trabalho escravo no âmbito doméstico e a exploração do trabalho sexual. O primeiro encontra-se em crescente debate no País, o que gera mais denúncias e, provavelmente, seguirá em ascensão o número de resgates de mulheres que foram exploradas na maior parte de suas vidas. De acordo com o relatório, a exploração no âmbito doméstico dura, em média, mais de 10 anos, enquanto a média de exploração nos outros setores é de 50 dias.

Por outro lado, a exploração do trabalho sexual ainda carrega muitos preconceitos e tabus, que impedem o avanço na proteção e garantia de direitos de mulheres que além da exploração laboral, possuem uma história de vida marcada por discriminação e violências.

Combate ao crime 

O tráfico de pessoas é um crime com alta subnotificação, portanto, os dados do relatório são estimativas da realidade. Isso ocorre porque as vítimas frequentemente temem denunciar, devido à vergonha, à discriminação, ao desconhecimento da condição de vítima, à falta de informações sobre os mecanismos de denúncia ou ao medo de represálias.

Entre 2021 e 2023, a Polícia Federal deflagrou 35 operações referente ao tráfico de pessoas e indiciou 70 pessoas

O documento registra que a apropriação do potencial dos recursos digitais por parte dos agentes de inteligência governamental e das autoridades responsáveis na repressão desse delito deve ser uma prioridade.

Relatório

Esse é o sexto estudo do Brasil sobre o tema e apresenta um conjunto de informações atualizadas sobre o tráfico de pessoas. O último divulgou dados entre os anos 2017 e 2020.

“O documento expõe um conjunto de informações fornecidas por autoridades nacionais sobre o tráfico de pessoas de diferentes órgãos. Os dados quantitativos e qualitativos resultaram na atual ‘fotografia’ do tráfico de pessoas no Brasil, além de suscitar questões relativas a aspectos desse crime que não aparecem nos registros oficiais”, explicou a coordenadora-geral de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes do MJSP, Marina Bernardes.

Acesse aqui o Relatório
Acesse aqui o Resumo Executivo do Relatório
Acesse aqui o Plano
Por: Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP)
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